Atraso no salário prejudica comércio

07/01/2015 07/01/2015 11:54 295 visualizações

SERVIDORES PÚBLICOS

Atraso no salário prejudica comércio

Previsão da Acipa é de alta na inadimplência e de queda nas vendas; Fecomércio aponta medida como “balde de gelo”

 

Aurora Fernandes - Palmas

07 de janeiro de 2015 (quarta-feira)

 

O atraso no pagamento do salário dos servidores públicos estaduais preocupa os comerciantes e a confirmação de que os vencimentos serão parcelados em quatro vezes causou espanto. “A notícia de que poderia atrasar atrapalhou as vendas de Natal e a confirmação foi um balde de gelo no comércio”, afirmou Itelvino Pisoni, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Tocantins (Fecomércio-TO).

 

Pisoni acredita que a repercussão negativa da medida atinge todo o Estado e a previsão é de que o “pessimismo deve se alastrar” ainda mais. De acordo com o presidente, as vendas já apresentaram queda e devem continuar caindo. “Os índices [DE QUEDA]são imprevisíveis, mas certamente serão altos”, frisou.

 

A orientação da Fecomércio é de que os comerciantes se resguardem e procurem reduzir despesas para enfrentar esse período crítico sem entrar no vermelho. “Ainda esperamos uma outra saída, que essa decisão [do parcelamento do salário] seja reconsiderada”, afirmou Pisoni.

 

Para o presidente, a decisão do governo vai impactar não somente os servidores, mas vários setores da economia tocantinense. “Certamente uma coisa puxa a outra e quando se tem pouco dinheiro, a tendência é priorizar apenas o básico”, avaliou Pisoni.

 

E se, recebendo o salário parcelado, o servidor vai priorizar algumas contas em detrimento de outras, a preocupação da Associação Comercial e Industrial de Palmas (Acipa), é com a inadimplência. A previsão da entidade é de que os índices negativos subam. “A inadimplência com certeza vai subir”, avaliou Fabiano do Vale, presidente da Acipa.

 

De acordo com a Acipa, os comerciantes ainda não discutiram oficialmente qual será o posicionamento com relação aos prazos de pagamento e períodos para negativar os clientes com contas em atraso. “A minha orientação é de que os comerciantes sejam mais complacentes, já que essa é uma situação atípica”, disse Vale.

 

A previsão é de que os empresários definam qual atitude será tomada sobre os atrasos nesse período, mas a Acipa orienta que os servidores que enfrentarem problemas por conta do parcelamento do salário procurem os credores para negociar os prazos e expor a situação.

 

“O funcionário público é o principal consumidor do Estado e não tem como fugir do impacto negativo”, afirmou o presidente da Acipa, ao lembrar que as vendas em janeiro já sofrem uma retração histórica e que é preocupante afirmar que serão ainda menores nesse ano.

 

RESSARCIMENTO

Segundo o vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Tocantins (OAB-TO), Rubens Dário Lima, os servidores que sofrerem danos devido ao atraso no salário têm meios legais para reaver esse dinheiro. “São teses jurídicas e uma ação como essa, contra o Estado, pode demorar anos, mas esses são caminhos que podem ser trilhados pelos prejudicados”, explicou. Ainda segundo Lima, é necessário provar os danos na Justiça.

 

CONSIGNADOS

Por meio de nota, o Banco do Brasil, afirmou que os créditos consignados tomados pelos servidores do Estado são debitados automaticamente na folha de pagamento e que cabe à administração pública esclarecer aos servidores como esse procedimento se dará.

 

O Sindicato dos Servidores Públicos no Estado do Tocantins (Sisepe-TO) argumenta que aguarda um posicionamento do governo sobre como ficarão questões como essa. “Não compromete só o poder de compra, mas também o nome e dívidas que muitos assumiram”, garantiu o presidente do sindicado, Cleiton Pinheiro.

 

A previsão é de que uma nova reunião seja realizada hoje, a parir das 17 horas, para que sejam discutidas essas e outras questões entre servidores e governo do Estado.

 

O Jornal do Tocantins entrou em contato com a Secretaria de Comunicação para saber sobre o posicionamento do governo com relação ao impacto do parcelamento dos salários na economia, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

 

Entenda

A folha de pagamento do governo do Estado, referente ao mês de dezembro, será paga em quatro vezes, sendo a primeira parcela depositada no próximo dia 20. O anúncio foi feito no último sábado pelo secretário estadual de Administração, Geferson Barros. A justificativa é que o governador Marcelo Miranda (PMDB) recebeu o governo com o caixa zerado e com uma dívida de mais de R$ 261 milhões com os servidores públicos. Ontem, o secretário estadual da Fazenda, Paulo Afonso, admitiu que o governo poderá buscar adiantamento de receitas e até empréstimos para evitar o já anunciado parcelamento em quatro vezes dos salários.

Publicado no Jornal do Tocantins de 07 de janeiro de 2015.